quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Os Conselhos de Acompanhamento e Controle Social (Cacs)




Os Conselhos de Acompanhamento e Controle Social (Cacs)



Levantando a bandeira da redemocratização, movimentos sociais começaram a surgir e a reivindicar direitos cívicos básicos, principalmente ao fim da década de 1970 e início dos anos de 1980. O que se pôde ver foram movimentos como o “Diretas Já”, que lutaram pelo fim da ditadura militar, pelas eleições diretas, dentre outros objetivos, o que resultou em 1988 na promulgação da nova Constituição Federal (CF), conhecida como Constituição Cidadã.
A partir da segunda metade da década de 1980, um processo conhecido como descentralização/desconcentração das políticas sociais redirecionou à esfera municipal decisões acerca de investimentos em bens públicos, o que antes era de responsabilidade da União e do Estado. Alguns defendem que a ofensiva neoliberal do início da década de 1990 intensificou o distanciamento do Estado em relação aos direitos sociais, como no caso da educação, privatizando algumas instâncias de ensino e descentralizando a manutenção de investimentos. Na esfera das unidades federativas, esse processo também conhecido como “municipalização” contribuiu para a criação de medidas que visassem maior participação da sociedade na manutenção, monitoramento e fiscalização de investimentos governamentais. Alguns estudiosos apontam que isso pode ser mais uma estratégia neoliberal visando a transferência de obrigações e responsabilidades para o setor privado, num processo de privatização, comum na década de 1990. Porém, a CF de 1988, que em seu art. 212 consolida essa descentralização, foi criada ante à combinação entre a descentralização e a redemocratização do país, o que sugere um alento às críticas desse processo. O caso do Brasil não foi o mesmo de vários países da América Latina.
Nesse sentido, de acordo com Daniel Silva Balaban, presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE, 2006), políticas de perspectiva democrática mais participativas com maior envolvimento das comunidades na gestão pública começaram a ser adotadas a partir daí. Assim, conforme o autor, “para que a sociedade exercesse as funções de fiscalização, monitoramento, acompanhamento e avaliação de resultados das ações executadas pelos entes da federação, foi necessária a institucionalização de órgãos colegiados deliberativos, representativos da sociedade, de caráter permanente. Surgiram, então, os conselhos configurados como espaços públicos de articulação entre governo e sociedade”. Nesse contexto, propagou-se também o discurso do controle social, sobretudo na área da educação.
Esses conselhos, hoje conhecidos como Conselhos de Acompanhamento e Controle Social (Cacs), foram criados para aumentar a participação da sociedade nas decisões da máquina estatal, bem como no monitoramento e fiscalização dos recursos destinados às esferas de atuação (Estados, Municípios e Distrito Federal).
No âmbito educacional foram criados, como um dos mecanismos de participação social do Fundo de Manutenção e desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef), os Cacs direcionados ao monitoramento dos recursos destinados à educação. Esse fundo redistribui os recursos a partir da quantidade de alunos matriculados em cada rede, sendo este o principal critério para a regulamentação do fundo conforme o Censo Escolar do ano anterior. Conforme a lei nº 9.424/96, pela qual o Fundef é amparado, os conselhos devem ser compostos por representantes do Poder Legislativo e Executivo, por Professores e Diretores de escolas do ensino básico, e por entidades de classe, como Sindicatos, associações de pais e mestres, dentre outros, e também por servidores de escolas públicas, representantes do conselho tutelar e/ou do conselho municipal de educação (CME), caso haja.
Tais conselhos têm como atribuições o acompanhamento e controle dos recursos do Fundef destinados à alimentação escolar com auxílio do Programa Nacional de Alimentação escolar (Pnae), conhecido como Merenda Escolar; recursos destinados ao transporte do escolar, com o Programa Nacional de Transporte do Escolar (PNTE); recursos destinados ao Bolsa Família, dentre outros programas de esfera federal aderidos pelo município. Cabe a eles, portanto, acompanhar a aplicação dos recursos públicos e, se for necessário, denunciar irregularidades na utilização desses recursos, encaminhando ao Departamento de Desenvolvimento de Políticas de Financiamento da Educação Básica da Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação (Defineb/SEB/MEC) por meio de cartas, ofícios, fax, telefone, e-mail ou pela Central de Atendimento ao Cidadão Fala Brasil elementos contidos em documentos que apontem desvios indevidos, isso seguido de formalização de pedido de providências ao governante responsável. Podem ainda recorrer ao Ministério Público (MP), ao Tribunal de Contas (TC) e aos vereadores do município para que providenciem as soluções cabíveis ao problema.
Atualmente, a partir de 2006, o órgão que cuida desses conselhos é o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), que veio substituir o Fundef, como meio direcionador dos recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Com o número cada vez maior de denúncias sobre a atuação dos conselhos do Fundef, esse novo órgão foi criado para tentar corrigir as lacunas encontradas no programa anterior. Como o Poder Executivo pode interferir de maneira direta na decisão de escolha dos membros integrantes do conselho, muitas vulnerabilidades e deficiências foram encontradas. Há situações em que os membros do conselho são pessoas próximas, “braços direito” do governo. Nesse sentido, a criação desses conselhos em alguns lugares serviu como mais uma das manobras políticas de governantes mal intencionados. Com efeito, a participação nos Cacs “não é remunerada”, medida tomada a fim de que houvesse participação de membros com perspectiva de serviço social.

O Conselho de Acompanhamento e Controle Social do Fundeb em Inhumas-GO

Na cidade de Inhumas há um Conselho do Fundeb, integrado por 32 pessoas, entre titulares e suplentes, que está em estado regular, de acordo com o FNDE, cumprindo, ao que tudo indica, com as “obrigações” a ele delegadas. Tem como atual Presidente Cláudia de Souza Abdalla, professora de escola pública. O mandato dos conselheiros vai até 2013, indo do dia 18/03/2011 a 18/03/2013, assegurado pelo Decreto nº 040 de 18/03/2011. Não foram encontradas fontes suficientes que apontassem a quanto tempo o Conselho atua no município. É esperado que atuasse desde 2000, onde dados do MEC demonstram que 97% dos Cacs estavam em funcionamento no Brasil. Mesmo que conste regularidade perante os órgãos de manutenção dos fundos, não se pode saber se o Conselho está em bom funcionamento, isto é, cumprindo religiosamente suas funções.
É imprescindível, para o bom andamento do controle feito pelos conselhos, que haja reuniões periódicas de seus membros, a fim de manter a eficácia da atuação do órgão. Em pesquisa encomendada pelo MEC à Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipes), constatou-se que nos primeiros períodos de atuação dos conselhos, na região Nordeste, 21,2% não se reuniram uma única vez durante um ano inteiro. No site do FNDE, em relação à cidade de Inhumas-GO, verifica-se no espaço referente ao número de frequência de reuniões a inscrição “outros”. Essa informação impossibilita sabermos qual a periodicidade de reuniões referente ao Conselho.
Um problema encontrado no Estado da Paraíba é a falta de periodicidade das reuniões e a falta de interesse do Poder Executivo em tornar transparentes as prestações de contas do Fundeb (Souza Júnior, 2006). A transparência em relação aos documentos referentes às contas do município é fator preponderante na boa atuação dos Conselhos, através de Jornais, Periódicos, Revistas e demais meios de comunicação. O que se observa em Inhumas é a falta de informação em relação a isso. Em inúmeras conversas informais com indivíduos da cidade, não há ninguém que saiba desse tipo de órgão controlador e fiscalizador. E você, cidadão inhumense, já ouviu falar desse tipo de conselho? Se já, onde?
Outra questão é a referente à capacitação dos membros do conselho. Sem a capacitação necessária, várias dificuldades são encontradas no funcionamento dos Cacs: dubiedade das funções do conselho, desqualificação dos integrantes em analisar documentos tão complexos de perfil contábil, não cooperação do Poder Executivo e principalmente a facilidade de corrompimento dos membros.
Os Cacs relacionados à Merenda Escolar, fiscalizadores do Pnae, conhecidos como CAEs, encontram inúmeras barreiras para sua perfeita atuação. Além de fiscalizar, gerenciar e monitorar os investimentos provenientes do FNDE por meio do Pnae para a alimentação do escolar, ainda interferem diretamente no cardápio das escolas, separando a partir do valor nutricional, os alimentos que serão distribuídos, dando ênfase aos produtos in natura, apoiando o pequeno produtor de agricultura familiar e incentivando o consumo daquilo que é produzido na cultura local. No entanto, é mister que tenham um preparo através de um nutricionista profissional, que os oriente em suas atribuições. De acordo com o site da Câmara Municipal de Inhumas, encontra-se ainda em discussão a criação desse órgão deliberativo, tão importante na manutenção e fiscalização da Merenda Escolar. Só para constar, a Câmara dos vereadores volta a funcionar nesse mês de fevereiro, após período de férias.
Em Inhumas, mesmo que exista esse tipo de Conselho fiscalizador, ainda são muito vagas as informações relacionadas a ele. Porém, perguntas surgem: Onde se reúne o Conselho? Com qual periodicidade? Seus membros são realmente capacitados? Há um Conselho para alimentação e/ou transporte do escolar, pautados também em lei? Se não há, quem gerencia esses fundos? Nós, moradores da Cidade de Inhumas, podemos realmente confiar nesses órgãos? Estão aí perguntas difíceis de responder.

Michel Marques de Lima
Inhumas 2012        

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