Hippies : Cultura ou contracultura?
Uma ideologia que nasce em uma
classe de jovens ricos na década de 1960, e que após 50 anos é referida como
uma perspectiva saturada e desfocada, sem um sentido real de manifestação, por
um grupo de pessoas que não mais se preocupa em pleitear-se como anti-sistema,
mas sim sobrevive de suas “migalhas” como muito outros grupos que se distanciam
ou se excluem por não se inserirem propriamente em uma demanda de mercado.

Poderíamos argumentar aqui em um
extenso debate sobre os prós e os contras dessa ideologia que nasce no seio de
uma classe dominante e que assim que se toma forma, em uma realidade social,
por uma maioria da classe dominada, esse discurso é então massacrado e
marginalizado por essa própria classe dominante. Mas o intuito não é uma análise maniqueísta,
à qual atribuiremos um julgamento de valores, e sem compreendermos como um
discurso ideológico é legitimado pela classe dominante quanto à sua articulação
social, ou seja, a submissão aos seus interesses, seja de apresentar uma nova
perspectiva, que na década de 1960 talvez não fosse aprovada por todo o corpo
social, mas estava condicionada a desviar o foco de um quadro lamentável à
humanidade que é justamente o desnorteamento que as pessoas enfrentam após uma
catastrófica guerra; ou a articulação de se distanciar certos grupos sociais,
que atualmente, não estão inseridos em uma demanda de mercado, seja pela
perspectiva econômica, quanto as “competências” necessárias ao mercado de
trabalho; seja pela cultura, que padroniza modelos para que haja um extenso
mercado consumidor; seja pela política, que nada ou pouco se preocupa com
indivíduos que não comprometem como eleitores, ou pela própria arte, esta pode
ser então a perspectiva mais interessante de ser analisada.
A arte nos dias atuais como em todas
as áreas do conhecimento, se legitima ainda pelas próprias leis que são
estabelecidas por um grupo na sociedade, que reconhece o seu “lugar” de
produção e este sim vai dizer o que é arte e o que não é arte. Mas é complexo
compreender em seu discurso uma totalidade do mesmo, pois na postulação atual
estamos em um contexto “pós-moderno”, e no campo da arte há uma “ruptura” no
discurso que não ocorre de fato na realidade orgânica social, ou seja, essa
arte de perspectiva “pós-modernista” vem definir, que segundo Karl Marx, todo
ser humano é compreendido por um campo do que ele chama de “prático-utilitário”
(finalidade) e o que transpõe a isso pertence ao campo do “estético-sensível”
(que não há uma finalidade específica, senão a própria fruição do homem),
cabendo estas duas máximas do homem se complementarem mutuamente e
preponderantemente se articularem em tudo e em todos, assim a arte compreende e
estabelece que qualquer indivíduo é produtor de arte, qualquer um é um artista;
só que no “concreto” essa intencionalidade não se materializa, porque
primeiramente todo e qualquer indivíduo deve ser submetido à uma categorização
de outros que compõe esse “lugar” de legitimação que irá “aceitar” ou não
determinado produto desse campo “estético-sensível” como arte. Há a necessidade implicante à uma erudição
tanto para “avaliação” dessa arte ou mesmo para sua compreensão, é como se o
“popular” e o “erudito” se fundisse de forma a exigir uma erudição (mínimo
conhecimento necessário a compreensão do mesmo) ao reconhecimento desse
“popular”.
Nesse emaranhado de indagações que
encontra-se a cultura hippie dos dias atuais, que por não suprirem um mercado e
não serem legitimados como arte, fica-se “perambulando” entre a marginalização
e a extinção dessa ideologia .
É necessário, então, enxergarmos as
diferenças que se igualam na concepção da formação de uma humanidade, e que há
uma subjetividade que é composta como fruto da própria sociedade e por muitas
vezes redimensionadas dentro dela. Por isso, deveremos apelar pela
sensibilidade de tornar inteligível e o menos contraditório possível a nossa
existência, que se houver uma forma melhor ou mais concisa de nos organizarmos
para não nos limitarmos a uma "bestialização" provocada pelo sistema
em uma articulação de um discurso dominante que manipula e se “arraiga” se
fortalecendo cada vez mais na “alienação” do corpo social, então só assim
veremos com certa “claridade” a capacidade do homem em sua pluralidade de se
estabelecer e também de se enxergar nessa existência.
Janayna Medeiros Pinto Santana
(janaypiri@hotmail.com)
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