Hippies : Cultura ou contracultura?
Uma ideologia que nasce em uma
classe de jovens ricos na década de 1960, e que após 50 anos é referida como
uma perspectiva saturada e desfocada, sem um sentido real de manifestação, por
um grupo de pessoas que não mais se preocupa em pleitear-se como anti-sistema,
mas sim sobrevive de suas “migalhas” como muito outros grupos que se distanciam
ou se excluem por não se inserirem propriamente em uma demanda de mercado.
A cultura hippie nasce em um
contexto social de um espírito jovem ainda do pós-guerra, com influências do
“beatnik”, são jovens que se juntam com manifestações de “paz e amor” (como
fica conhecido como o slogan dessa cultura), com as proposições de "faça
amor e não faça guerra”, em campanhas contra o armamento nuclear, na tentativa
de “renaturalizar”, o homem, fazendo com que nós possamos nos reconhecer e nos
situar enquanto frutos de um meio que se dá pelas relações estabelecidas entre
os próprios homens, mas também pelas relações que o homem estabelece com a
natureza, na tentativa justamente de desfocar o homem de suas “querelas”
materiais e de suas guerras de fronteiras, para ser então levado ao posto de
integrante de um todo (natureza) que estabelece suas próprias leis de
existência; defendem também a liberdade em todos campos da sociedade, inclusive
o mais polêmico, talvez, o da sexualidade, mas também da religiosidade, do
direito de ir e vir, ou seja, da “quebra” dos módulos que as instituições
sociais (igrejas, trabalho, família, escola) nos impõe.
Poderíamos argumentar aqui em um
extenso debate sobre os prós e os contras dessa ideologia que nasce no seio de
uma classe dominante e que assim que se toma forma, em uma realidade social,
por uma maioria da classe dominada, esse discurso é então massacrado e
marginalizado por essa própria classe dominante. Mas o intuito não é uma análise maniqueísta,
à qual atribuiremos um julgamento de valores, e sem compreendermos como um
discurso ideológico é legitimado pela classe dominante quanto à sua articulação
social, ou seja, a submissão aos seus interesses, seja de apresentar uma nova
perspectiva, que na década de 1960 talvez não fosse aprovada por todo o corpo
social, mas estava condicionada a desviar o foco de um quadro lamentável à
humanidade que é justamente o desnorteamento que as pessoas enfrentam após uma
catastrófica guerra; ou a articulação de se distanciar certos grupos sociais,
que atualmente, não estão inseridos em uma demanda de mercado, seja pela
perspectiva econômica, quanto as “competências” necessárias ao mercado de
trabalho; seja pela cultura, que padroniza modelos para que haja um extenso
mercado consumidor; seja pela política, que nada ou pouco se preocupa com
indivíduos que não comprometem como eleitores, ou pela própria arte, esta pode
ser então a perspectiva mais interessante de ser analisada.
A arte nos dias atuais como em todas
as áreas do conhecimento, se legitima ainda pelas próprias leis que são
estabelecidas por um grupo na sociedade, que reconhece o seu “lugar” de
produção e este sim vai dizer o que é arte e o que não é arte. Mas é complexo
compreender em seu discurso uma totalidade do mesmo, pois na postulação atual
estamos em um contexto “pós-moderno”, e no campo da arte há uma “ruptura” no
discurso que não ocorre de fato na realidade orgânica social, ou seja, essa
arte de perspectiva “pós-modernista” vem definir, que segundo Karl Marx, todo
ser humano é compreendido por um campo do que ele chama de “prático-utilitário”
(finalidade) e o que transpõe a isso pertence ao campo do “estético-sensível”
(que não há uma finalidade específica, senão a própria fruição do homem),
cabendo estas duas máximas do homem se complementarem mutuamente e
preponderantemente se articularem em tudo e em todos, assim a arte compreende e
estabelece que qualquer indivíduo é produtor de arte, qualquer um é um artista;
só que no “concreto” essa intencionalidade não se materializa, porque
primeiramente todo e qualquer indivíduo deve ser submetido à uma categorização
de outros que compõe esse “lugar” de legitimação que irá “aceitar” ou não
determinado produto desse campo “estético-sensível” como arte. Há a necessidade implicante à uma erudição
tanto para “avaliação” dessa arte ou mesmo para sua compreensão, é como se o
“popular” e o “erudito” se fundisse de forma a exigir uma erudição (mínimo
conhecimento necessário a compreensão do mesmo) ao reconhecimento desse
“popular”.
Nesse emaranhado de indagações que
encontra-se a cultura hippie dos dias atuais, que por não suprirem um mercado e
não serem legitimados como arte, fica-se “perambulando” entre a marginalização
e a extinção dessa ideologia .
É necessário, então, enxergarmos as
diferenças que se igualam na concepção da formação de uma humanidade, e que há
uma subjetividade que é composta como fruto da própria sociedade e por muitas
vezes redimensionadas dentro dela. Por isso, deveremos apelar pela
sensibilidade de tornar inteligível e o menos contraditório possível a nossa
existência, que se houver uma forma melhor ou mais concisa de nos organizarmos
para não nos limitarmos a uma "bestialização" provocada pelo sistema
em uma articulação de um discurso dominante que manipula e se “arraiga” se
fortalecendo cada vez mais na “alienação” do corpo social, então só assim
veremos com certa “claridade” a capacidade do homem em sua pluralidade de se
estabelecer e também de se enxergar nessa existência.
Janayna Medeiros Pinto Santana
(janaypiri@hotmail.com)
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