sábado, 25 de fevereiro de 2012

contra cultura


Hippies : Cultura ou contracultura?

            Uma ideologia que nasce em uma classe de jovens ricos na década de 1960, e que após 50 anos é referida como uma perspectiva saturada e desfocada, sem um sentido real de manifestação, por um grupo de pessoas que não mais se preocupa em pleitear-se como anti-sistema, mas sim sobrevive de suas “migalhas” como muito outros grupos que se distanciam ou se excluem por não se inserirem propriamente em uma demanda de mercado.
            A cultura hippie nasce em um contexto social de um espírito jovem ainda do pós-guerra, com influências do “beatnik”, são jovens que se juntam com manifestações de “paz e amor” (como fica conhecido como o slogan dessa cultura), com as proposições de "faça amor e não faça guerra”, em campanhas contra o armamento nuclear, na tentativa de “renaturalizar”, o homem, fazendo com que nós possamos nos reconhecer e nos situar enquanto frutos de um meio que se dá pelas relações estabelecidas entre os próprios homens, mas também pelas relações que o homem estabelece com a natureza, na tentativa justamente de desfocar o homem de suas “querelas” materiais e de suas guerras de fronteiras, para ser então levado ao posto de integrante de um todo (natureza) que estabelece suas próprias leis de existência; defendem também a liberdade em todos campos da sociedade, inclusive o mais polêmico, talvez, o da sexualidade, mas também da religiosidade, do direito de ir e vir, ou seja, da “quebra” dos módulos que as instituições sociais (igrejas, trabalho, família, escola) nos impõe.
            Poderíamos argumentar aqui em um extenso debate sobre os prós e os contras dessa ideologia que nasce no seio de uma classe dominante e que assim que se toma forma, em uma realidade social, por uma maioria da classe dominada, esse discurso é então massacrado e marginalizado por essa própria classe dominante.  Mas o intuito não é uma análise maniqueísta, à qual atribuiremos um julgamento de valores, e sem compreendermos como um discurso ideológico é legitimado pela classe dominante quanto à sua articulação social, ou seja, a submissão aos seus interesses, seja de apresentar uma nova perspectiva, que na década de 1960 talvez não fosse aprovada por todo o corpo social, mas estava condicionada a desviar o foco de um quadro lamentável à humanidade que é justamente o desnorteamento que as pessoas enfrentam após uma catastrófica guerra; ou a articulação de se distanciar certos grupos sociais, que atualmente, não estão inseridos em uma demanda de mercado, seja pela perspectiva econômica, quanto as “competências” necessárias ao mercado de trabalho; seja pela cultura, que padroniza modelos para que haja um extenso mercado consumidor; seja pela política, que nada ou pouco se preocupa com indivíduos que não comprometem como eleitores, ou pela própria arte, esta pode ser então a perspectiva mais interessante de ser analisada.
            A arte nos dias atuais como em todas as áreas do conhecimento, se legitima ainda pelas próprias leis que são estabelecidas por um grupo na sociedade, que reconhece o seu “lugar” de produção e este sim vai dizer o que é arte e o que não é arte. Mas é complexo compreender em seu discurso uma totalidade do mesmo, pois na postulação atual estamos em um contexto “pós-moderno”, e no campo da arte há uma “ruptura” no discurso que não ocorre de fato na realidade orgânica social, ou seja, essa arte de perspectiva “pós-modernista” vem definir, que segundo Karl Marx, todo ser humano é compreendido por um campo do que ele chama de “prático-utilitário” (finalidade) e o que transpõe a isso pertence ao campo do “estético-sensível” (que não há uma finalidade específica, senão a própria fruição do homem), cabendo estas duas máximas do homem se complementarem mutuamente e preponderantemente se articularem em tudo e em todos, assim a arte compreende e estabelece que qualquer indivíduo é produtor de arte, qualquer um é um artista; só que no “concreto” essa intencionalidade não se materializa, porque primeiramente todo e qualquer indivíduo deve ser submetido à uma categorização de outros que compõe esse “lugar” de legitimação que irá “aceitar” ou não determinado produto desse campo “estético-sensível” como arte.   Há a necessidade implicante à uma erudição tanto para “avaliação” dessa arte ou mesmo para sua compreensão, é como se o “popular” e o “erudito” se fundisse de forma a exigir uma erudição (mínimo conhecimento necessário a compreensão do mesmo) ao reconhecimento desse “popular”.
            Nesse emaranhado de indagações que encontra-se a cultura hippie dos dias atuais, que por não suprirem um mercado e não serem legitimados como arte, fica-se “perambulando” entre a marginalização e a extinção dessa ideologia .
            É necessário, então, enxergarmos as diferenças que se igualam na concepção da formação de uma humanidade, e que há uma subjetividade que é composta como fruto da própria sociedade e por muitas vezes redimensionadas dentro dela. Por isso, deveremos apelar pela sensibilidade de tornar inteligível e o menos contraditório possível a nossa existência, que se houver uma forma melhor ou mais concisa de nos organizarmos para não nos limitarmos a uma "bestialização" provocada pelo sistema em uma articulação de um discurso dominante que manipula e se “arraiga” se fortalecendo cada vez mais na “alienação” do corpo social, então só assim veremos com certa “claridade” a capacidade do homem em sua pluralidade de se estabelecer e também de se enxergar nessa existência.
                                                               Janayna Medeiros Pinto Santana
                                                               (janaypiri@hotmail.com)

Nenhum comentário:

Postar um comentário