segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

A Arte Pela Arte





A Arte Pela Arte

           Já fui muitas vezes criticado e classificando como radicai, metido a besta e chato, sendo isso concernente ao meu ferrenho ponto de vista e às críticas que faço a alguns tipos de música que temos ouvido por aí e que inegavelmente tem feito imenso sucesso. Sucesso não significa talento, penso eu.
Mesmo que efêmeros alguns fenômenos tem levado multidões aos shows e feito a alegria dos que não entendem ou não querem entender o que é discernir a arte a ser consumida de forma prazerosa da pseudo-arte totalmente descartável e banal.
Quero dizer que respeito, até certo ponto, tudo isso. Contudo, é um direito meu fazer comentários para com aquilo que não gosto e até classificar certas manifestações. Afinal, vivemos num país democrata terceiro-mundista onde todo mundo mete a mão e têm os mesmos direitos de se expressarem livremente. Desde que tenham argumento o suficiente para fazê-lo. Isso de ficar defendendo alguma coisa só porque gosta não justifica. Nunca fui o sabe-tudo de música, mas leio bastante e procuro beber do assunto em fontes seguras desde que me entendo por consumidor de cultura e arte.                  
Comparo o ato de consumir música enquanto arte, fonte de conhecimento, entretenimento e cultura com o sujeito que vai ao botequim consumir pinga e o outro que procura por bons vinhos. O primeiro verte o liquido goela abaixo buscando a zonzeira característica da aguardente ou um porre homérico. Paga o drinque e vai embora ou fica por ali, não se preocupando com as companhias, o ambiente. O segundo, às vezes mais exigente, saboreia o produto em um local tranqüilo e agradável, em boa companhia (ou mesmo sozinho), ouvindo ou vendo o que lhe traz prazer. Nesse caso, ele pode até gostar de algumas bobagens, porém, quanto ao prazer do deguste de sua bebida, nisso ele é exigente e não abre mão de momentos de prazer. O que quero comparar aqui não é a diferença entre a pinga e o vinho fino. Cada um tem seu valor para cada tipo de consumidor. No entanto, o apreciador do bom vinho jamais irá tragá-lo de uma golada só. Seria tolice, pois, vinhos devem ser degustados e apreciados como um todo. Até a boa cachaça (pois, igual a tudo nessa vida, existem o bom, o ruim e o mais ou menos) deveria apreciada de forma parecida com a dos bons vinhos. Infelizmente há pessoas que não ligam pra isso e só pensam em encher a cara. Simplesmente não se importam com qualidade e há também os fatores cultura e poder aquisitivo que pesam muito nessas horas. Mas não há dinheiro que pague o conhecimento, cultura.
Voltando ao tema central que é a música enquanto arte, digo que artistas do calibre de um Chico Buarque ou o um Pink Floyd, apesar de ligados ao mundo dos negócios fonográficos que muito capitalista não, produzem suas OBRAS aleatoriamente, para serem simplesmente ouvidas durante um tempo e depois esquecidas (lembrando que o dinheiro de quem comprou, baixou da internet ou pirateou é dele e ele, por direito faz o que quiser do material adquirido). É direito de cada um agir como melhor lhe convém. Só que arte não se descarta se aprecia ao longo da vida com a certeza de que esta sempre lhe trará algum novo prazer. Ouçam Carinhoso do Pixinguinha e João de Barro na versão do saudoso trompetista Márcio Montarroios. Que tal Apesar de Você com Chico Buarque de Holanda? Experimentem The Number of The Beast do grupo de heavy metal Inglês Iron Maiden. Travessia do Araguaia com Tião Carreiro e Pardinho é luxo só. Tocata e Fuga em Ré menor de Bach..., sem comentário. Tem aquela antiga do Erasmo Carlos, A Carta e que foi reagravada há alguns anos atrás por ele mesmo e o grande Renato Russo.  Clássicos! Atenção. Há figuras que regravam certos clássicos tornando-os tão populares e comerciais que enche o saco do tanto que são executadas. Mas por trás disso existe o famoso JABÁ e as jogadas de marketing. Reafirmo que fazer sucesso não significa especificamente ser talentoso.
A música como manifestação de arte quase sempre é produzida sem pretensão de soar comercial. Porém, há casos em que a arte cai no gosto popular e quase todo mundo, em um momento de glória, descobre o prazer que é o de pertencer ao seleto grupo dos que sabem apreciar o que é muito bom. Como exemplo disso, posso tranqüilamente citar o álbum Thriller (mais de cinqüenta milhões de cópias vendidas no mundo) do rei do pop Michael Jackson (R.I.P.). Há quem não goste dele. Fazer o que? O Tiririca da famosa Florentina hoje é deputado! É a cara do povo brasileiro.
Talvez seja por isso que alguns por aí me julguem um chato, um radical. Sou sim, mas, dentro de minhas possibilidades, vou atrás do que é bom sem ser piegas nem cair muito no senso comum. Se me acham radical, experimentem o Maestro Júlio Medáglia e aí, talvez, possam vir a entender o que é ser seletivo e exigente.
Existe muita música boa para se ouvir. Se vivesse até os 80 só ouvindo o que já foi produzido em matéria de blues, por exemplo, não conseguiria ouvir tudo. Por que ficar ouvindo a mesma coisa o tempo todo? A vida é curta.
            Viva a globalização, o consumismo, a diversidade, a mesmice. Mas viva também a boa música! Viva Luiz Gonzaga.
Michel, té logo!

Um comentário:

  1. Boa noite meu caro,
    Se me permite gostaria de fazer algumas intervenções em seu texto. Antes de mais nada é preciso definirmos o que seja arte. Arte é atividade humana e que está ligada a manifestações estéticas ou comunicativas. Percepção, emoção, música, ideias tem a clara e nítida função de instigar, provocar nossa consciência. Tendo dito isto, não existe pseudo arte. Existe a arte ou não existe. O pseudo talvez seja convenção de um pre-conceito que você tenha. Até porque seja o forró, o sertanejo, o rock ou mesmo o funck se despertam aquilo que define arte nas pessoas ou num determinado grupo de pessoas é arte, mesmo que para uma minoria, que por ser minoria não deve ser desrespeitada.
    Logo em seguida você afirma viver num país democrata, do terceiro mundo, onde todos metem a mão e têm o mesmo direito de expressão....vejo aqui mais um pre-conceito para com o seu próprio país e uma aberração diante de tantas pessoas que vivem suas vidas pautadas na honestidade, mesmo que a maioria destas pessoas não saiba o significado desta palavra.
    A emoção meu caro, item de definição do que seja arte, não precisa de explicação, muito menos de aprovação de um grupo de pseudo-intelectuais que se julgam melhores que os outros porque sabem degustar um dito bom vinho ou porque tem acesso a teatros onde se embriagam com musica clássica. A arte não pode ser menosprezada porque surge dos guetos ou das favelas...das metrópoles ou dos grandes teatros italianos....da cidadezinha do interior de minas ou do distrito federal. A arte como si, não tolera preconceitos, muito menos existe para oprimir os que são mais fracos e mal sabem se expressar.
    A arte como luxo como você cita em seu texto me leva a pensar que esta tal arte não seja para todos. Ate porque a maior parte da população mundial não vive em meio ao luxo. Os mega eventos são para poucos. A arte é para todos. E desde que ela desperte a emoção, o carinho, a lembrança de alguém querido ou de uma situação vivida ela deve ser respeitada. A arte não enumera quantos CD´S são vendidos, quantos shows realizados...A arte existe como forma de desperta no ser humano aquilo que um dia ele experimentou no convívio com Aquele é o Amor em sua forma mais exata...se as Arpas fazem sons para o coração de Deus, porque um tambor não pode encher de esperança e alegria uma criança ou uma comunidade que nada mais tem para produzir som e assim produzir sua arte?
    Espero com esta pequena intervenção ajudar no debate sobre a arte e sua dimensão puramente humana. Com respeito
    Wellington Germano de Oliveira

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