quarta-feira, 18 de abril de 2012
O que o anarquismo fala sobre a educação?
O que o anarquismo fala sobre a educação?
João Gabriel da Fonseca Mateus
Muito se fala de educação. Porém, na maioria dos casos a educação tem uma funcionalidade prática e formal, que conduz apenas à elevação do indivíduo a uma formação limitada, por exemplo, formá-lo ao mercado de trabalho para produzir trabalho alienado. Porém, na história do anarquismo vemos outra significação de educação (uma crítica e uma proposta). Neste breve texto, iremos apresentar o que significa educação para os anarquistas, primeiramente, a educação em seu estado atual e após isso, uma proposta de educação libertária.
O sentido da educação que os anarquistas propõem é amplamente diferente do sentido capitalista, ou seja, a educação proposta dos anarquistas visa despertar a sensibilidade dos trabalhadores para o caráter integral dos seres humanos, superando as diferenças entre trabalho intelectual e manual. A educação na sociedade atual (capitalista ou qualquer outra sociedade de classes) é evidentemente mecanismo de reprodução de classes. E como se dá essa reprodução? Muito bem fez Mikhail Bakunin ao dizer no seu texto “A Instrução Integral” de 1868 que: “a diferença de classes gera o domínio de classes”. Nesse sentido, a riqueza produzida em sociedade é exclusiva a uma classe que detém conhecimentos e seus progressos. Mas quem é essa classe que é exclusiva do poder e dos conhecimentos? É a classe hegemônica, a burguesa. A classe burguesa opera como legitimadora de seus interesses em suas instituições, ou seja, para isso ela precisa da burocracia, uma classe auxliar que reproduz os interesses burgueses.
No seio da burocracia existem determinadas estratificações e a figura da “autoridade”. A “autoridade” é aquele que dirige, manipula, administra, manda e exerce o poder sobre determinadas pessoas. No âmbito da educação, sobretudo no capitalismo, a autoridade exerce posição central, pois é mais uma maneira da manter a ordem vigente através da reprodução da divisão social do trabalho, cuja raiz é o poder econômico, político, simbólico sendo seu fim a hierarquia. Mas como pensar essa destruição? A resposta dos anarquistas está abaixo. Sem mais delongas, adentraremos ao tema da liberdade e a educação.
Diante do capitalismo essa educação está necessariamente ligada a uma revolução social. A ideia de ruptura é tida central em nossa percepção. A educação libertária como mecanismo de legitimação da liberdade só passa pela destruição do capitalismo e tudo que o geram. Dessa maneira, qualquer iniciativa a favor da autogestão social é um passo para sua afirmação aumentando a tendência para destruir essa sociedade opressora e instaurar uma sociedade justa e igualitária.
A liberdade só se concretizará com a destruição das estruturas de exploração burguesas e de dominação da sociedade capitalista, que impõe o desenvolvimento intelectual, econômico e político para os que detém poder e a exploração para a maioria. Portanto, as organizações burocráticas (escolas, partidos, igrejas, etc.) não conduzem a liberdade. Porém podem possibilitar desde que o indivíduo rompa com seus paradigmas de pensamento que o limitam, ou seja, a própria sociabilidade burguesa. Mas por que? Por que todas essas organizações são organizadas burocraticamente (dividem os indivíduos em cargos e poderes,) e isto só pode reproduzir burocracia. Tanto o Estado, como outras instituições burocráticas visam formar mentalidades adaptadas aos seus interesses de classe.
No século XX vemos um aumento significativo das escolas. Esse aumento, patrocinado pelo Estado tem o objetivo único de realizar seus próprios interesses, ou seja, impor aos indivíduos um pensamento reacionário, religiosos, nacionalista, sectário, etc. que reproduz assim a superficialidade, moralismo, atrofiamento da razão e o desenvolvimento da repressão.
A formação que tenha por objetivo ou que conduza à liberdade precisa levar em conta que ela só pode existir com condições reais. Isso nos autoriza a afirmar que a liberdade só pode ser concretizada com indivíduos livres. Então, o que seria liberdade? Esse conceito é utilizado por todas classes sociais com diferentes sentidos e significados. Aqui utilizaremos esse conceito a partir da corrente do anarquismo denominada coletivismo. Tendo como maior expoente o russo Mikhail Bakunin, o coletivismo é uma das várias correntes do anarquismo que se desenvolveu no século XIX.
Bakunin afirmou que “a instrução deve ser igual em todos os graus para todos; por conseguinte, deve ser integral, quer dizer, deve preparar as crianças de ambos os sexos tanto para a vida intelectual como a vida do trabalho, visando a que todos possam chegar a ser pessoas completas.” O que ele vem afirmar é a necessidade de um ensino que deve ser teórico e prático e posteriormente, após a escolha pessoal do indivíduo, o ensino deverá ser dividido em questões de conhecimentos gerais e específicos. Este é o projeto de educação libertária de Mikhail Bakunin. Outros anarquistas também propuseram outros tipos de educação libertária (Francisco Ferrer y Guardia, Élisée Reclus), porém, todos confluíram em um ponto: a destruição do capitalismo.
Resume-se aqui a educação libertária, proposta do anarquista russo. O que fica claro é a centralidade da ruptura com sistema capitalista. A liberdade só se concretizará com o fim do capitalismo e com a instauração de uma sociedade autogestionária.
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João Gabriel da Fonseca Mateus:
Graduando em Licenciatura em História pelo Instituto Federal de educação, Ciência e Tecnologia de Goiás; Bolsista da CAPES/PIBID; Autor do livro Educação e Anarquismo: uma perspectiva libertária (Rizoma Editorial, 2012); Membro do corpo editorial da Revista Eletrônica Espaço Livre.
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