terça-feira, 24 de abril de 2012

O Poder ideológico da Escola

O Poder ideológico da Escola A educação brasileira [pública ou privada] está, há muito, em período de crise. Todos que recentemente passaram pelo ensino básico, podem rapidamente fazer um resumo das contribuições desse período para suas vidas. Uns dirão que nem lembram. Outros dirão que aprenderam a sentar em fila, cantar o hino nacional e permanecer calados. Talvez seja possível uma análise dessa crise, atentando-se ao caráter de “Aparelho de Estado” que a Escola tem. Primeiramente, é necessário esclarecer o significado desse termo. Aparelhos de Estado são instituições que servem aos interesses do Estado [entendendo Estado como a união de todas essas instituições] para a garantia de conservação da ordem social. Esse termo foi primeiramente pensado por Karl Marx, conhecido como o “criador do Socialismo Científico”. Porém, Aparelhos de Estado para ele resumia-se a algumas instituições [polícia, exército, administração, tribunais, o governo, as prisões, etc.] que, por meio da <>, controlavam a sociedade. Gramsci, teórico marxista, foi além, observando que outras instituições, também agiam como aparelho de estado, porém de modo <>: a igreja, a escola, os sindicatos, os jornais etc. Sobretudo, quem tratou mais a fundo o termo, fazendo a fragmentação de suas partes e reunindo-as em um conceito mais abrangente foi Louis Althusser em seu livro intitulado “Ideologia e Aparelhos Ideológicos do Estado”. Ideologia pode ser entendida, segundo Marilena Chauí, como “um ideário histórico, social e político que oculta a realidade, e que esse ocultamento é uma forma de assegurar e manter a exploração econômica, a desigualdade social e a dominação política”. Entendendo por ideário, modos de agir, de vestir, de pensar, valores, crenças, etc. Nesse sentido, que lugar melhor para se transmitir um ideário construído historicamente senão a Escola? Como dito em edição anterior do Jornal, a Escola é um dos aparelhos mais eficazes de controle da sociedade pelo Estado. É ali que se aprende a não questionar autoridades hierárquicas, mesmo quando estão erradas. É ali que se aprende a cumprir horários, tarefas e obrigações. É ali que o sinal soa. Quando se está na Escola, é fácil prever seus movimentos. Sabe-se onde está, com quem está, o que está fazendo, e o mais interessante, sabe-se o que está pensando. Como assim sabe-se o que se está pensando? O que é ensinado nas escolas é previamente selecionado, por aqueles que têm como função moldar pessoas. Os conteúdos vistos durante as aulas não se relacionam com a realidade dos alunos. Os alunos não veem sentido algum em estarem ali. São obrigados a aprender equações, nomenclaturas, abreviações, teorias etc., ocupando suas mentes com algo que consideram chato e estressante. Nada a respeito da realidade é discutido ali. Assuntos que são emergentes e cotidianos são ignorados. Muitas Escolas têm seus banheiros destruídos, seus quadros negros rachados, sua merenda escassa e suas janelas quebradas. Mas isso não deve ser questionado. Construiria mentes perigosas ao Estado. Mentes que, provavelmente, não ofereceriam tão fácil sua força de trabalho futuramente. Mentes que repudiariam o sistema educacional e a sociedade como estão. Não que as disciplinas curriculares sejam desnecessárias. O caso não é o que ensinar. O caso é o como ensinar. Quando se ensina qualquer disciplina, mesmo disciplinas de ciências humanas, pouco se discute sobre a realidade, não havendo nenhuma contextualização dos termos. Como se as ciências fossem desvinculadas da realidade social. Como se não fossem construções humanas, desenvolvidas histórico, cultural e socialmente. Quando aqui foi tratado sobre a influência de órgãos internacionais, como o Banco Mundial, no que é ensinado e como é ensinado nas Escolas latino americanas, objetivou-se abrir caminho para uma crítica mais aprofundada. Enquanto esses órgãos, que visam à profissionalização mercadológica, estiverem manipulando o sistema educacional, as ideias contidas nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN´s) para a Educação, nunca se concretizarão. Esses parâmetros idealizam uma Educação formadora de cidadãos críticos, que atuem de modo direto e ativo na sociedade, questionando as desigualdades e lutando por seus direitos. Porém esse ideal jamais será alcançado, enquanto a Educação estiver vendida aos interesses do mercado neoliberal. Enquanto essa ideia de falsa autonomia institucional permear por entre os meios educacionais, a ideologia de mercado continuará coordenando os passos que a Escola dá. E, consequentemente, coordenando os passos que a sociedade dá.

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