terça-feira, 24 de abril de 2012

Ao soar das teclas MMA: A volta dos gladiadores

Nesta edição pretendo falar sobre uma modalidade esportiva que vem crescendo notoriamente em número de participantes e, também em divulgação por parte da mídia, alcançando status de modalidade esportiva que mais cresceu nos últimos anos. Refiro-me ao MMA (Mixed Martial Arts) cujas raízes estão no vale-tudo no Brasil e no shootwrestling japonês. O vale tudo teve seu inicio na terceira década do século XX quando Carlos Gracie fundador do jiu-jitsu (que é uma arte marcial brasileira) fez um convite para vários lutadores de modalidades de lutas diferentes se enfrentarem no que era chamado de “Desafio do Gracie”. Hélio Gracie e a familia Gracie deram continuidade a este desafio que passaram a ser duelos de vale-tudo, mas que não tinham o acompanhamento da mídia. Na década de 80, no Japão, Antonio Inoki passou a organizar uma série de lutas de artes marciais mistas causando a formação de uma das primeiras organizações japonesas de artes marciais mistas conhecidas como shooto. As artes marciais mistas obtiveram grande popularidade nos EUA no ano de 1993, quando Rorion Gracie e outros sócios criaram o primeiro torneio de UFC (Ultimate Fighting Championship). Com o sucesso do UFC, os japoneses criaram o Free Style Japan Championship ou Open Style Japan em 1994 (na época eram os dois maiores torneios de MMA do mundo) cujas duas primeiras edições, no ano de 1995, foram vencidas por Rickson Gracie, que na década de 1970 e 1980, era um grande lutador de vale-tudo no Brasil e que lutava também no Open Japão e nas primeiras edições do Pride Fighting Championships. No ano de 2001 o ex empresário do boxe Dana White convenceu os amigos Lorenzo e Frank Fertitta donos da rede de cassinos Station e compraram o UFC pela bagatela de 2 milhões de dólares. Mudaram algumas regras e conseguiram legalizar o esporte em quase todos os estados americanos. Em 2007 o UFC comprou o Pride e levou vários atletas do Japão para os EUA transformando o UFC na maior organização de MMA do planeta dominando mais de 90% do mercado mundial de MMA. O MMA, como qualquer esporte, tem suas regras e que são severamente seguidas, as regras gerais são:  Os lutadores devem usar luvas de dedo aberto fornecidas pelo evento;  Obrigatório o uso de coquilha (equipamento de proteção genital) e protetor bucal;  É permitido (porém não obrigatório) o uso de sapatilhas, protetores para cotovelos e bandagem para tornozelos e punhos;  Lutadores que não demonstrarem agressividade ou combatividade serão advertidos e a luta reiniciada São consideradas ainda atitudes antidesportivas:  Cabeçadas, dedo no olho, morder, puxar cabelo, beliscar, arranhar e cuspir no adversário;  Ataque à boca do adversário com a mão, a região genital ou ao rim com o calcanhar;  Enfiar o dedo em qualquer orifício corte ou laceração e manipular as articulações pequenas do adversário;  Ataques à coluna ou parte de trás da cabeça, golpear de cima para baixo usando a ponta do cotovelo, qualquer tipo de ataque à garganta e agarrar a clavícula;  Chutar ou atingir com o joelho a cabeça do adversário que está no chão;  Arremessar o adversário de cabeça no chão ou atira-lo para fora do octógono;  Segurar o calção ou luvas do adversário, assim como agarrar a grade do octógono;  Utilizar de linguagem imprópria ou abusiva ou ser flagrado desrespeitando as instruções do árbitro;  Atacar o adversário nos intervalos, que esteja sob os cuidados do juiz ou após a campainha ter anunciado o final do round;  Sem limitação, evitar o contato com o adversário, cair de forma intencional, derrubar insistentemente o protetor bucal ou fingir lesão;  Interferência do córner ou jogar a toalha durante a luta;  Usar alguma substancia escorregadia no corpo. Tudo que ganha notoriedade acaba, também, gerando polêmicas, no caso do MMA, a polêmica ganhou corpo com o acontecido com o jovem americano Jeffrey Dunbar, de 20 anos, que ficou tetraplégico durante um evento amador que acontecia em um bar em Joliet, no estado americano de Illinois. Durante o combate o lutador fez um movimento brusco para tentar sair de uma posição adversa e forçou o pescoço contra a grade do octógono resultando na perda dos movimentos das pernas, das mãos e da fala. Triste fato reascendeu a polêmica em torno do MMA e a questão foi lançada ao ar: Pode ser considerado esporte uma luta violenta como o MMA? Essa pergunta me faz relembrar uma entrevista com o ex-pugilista Adilson dos Santos, o Maguila, quando perguntado se ele não achava o boxe um esporte violento ele, com toda a sua simplicidade, respondeu que violência era sair na rua e ser assaltado tendo uma arma apontada, violência era a sua mulher, ou sua filha serem vitimas de um maníaco sexual e, que no boxe, eram dois atletas treinados para aquilo, ou seja, o combate no ringue. Nessa perspectiva, o lendário ex-pugilista tem toda razão, mas, por outro lado, não há como dizer que o boxe e o MMA não são esportes violentos e não são os únicos. Eu, particularmente, gosto de assistir as lutas de MMA, mas por vezes, tenho a mesma reação de quando estou assistindo a um filme de terror (aquela reação de se fechar os olhos diante de uma ou outra cena mais assustadora). No domingo último a Rede Globo começou um novo reality show que tem como tema o MMA onde duas equipes, com 10 competidores cada, confinados, treinando juntos onde o paredão será os combates eliminatórios até a grande final com os dois finalistas que terão contratos com o UFC. Para se ter idéia do sucesso do MMA a Rede Globo comprou os direitos de transmissão do UFC no Brasil (o chato é aturar o Galvão Bueno narrando UFC). Muito ainda irá se discutir sobre essa modalidade esportiva que a cada dia cresce em todos os países e, sem dúvidas, muitas coisas irão acontecer dentro e fora do octógono e, quanto a questão se é violento ou se é esporte, vou ficando com a modesta opinião de que é um esporte violento. Neilton Carlos é formado em Letras e Cronista Esportivo filiado a ACEEG (Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de Goiás)
EM QUE SENTIDO O MITO, RELIGIÃO E LINGUAGEM FAZEM PARTE DA COMPREENSÃO DO HOMEM rodrigomarcante@hotmail.com Em toda a história da filosofia encontramos inúmeras perguntas sobre o homem, o Ser e outros problemas que envolvem o homem em sua totalidade e em sua particularidade. O mito é uma explicação da realidade de forma não pragmática e não técnica, que está ligada a uma tradição e a uma cultura primeira que desvela uma verdadeira autenticidade em seu conteúdo, mas não de maneira intelectual deixando este papel da intelectualidade para a filosofia, que por sua vez tem em si mesma um princípio racional. A religião busca uma explicação do que é o homem, o que ele é, ficando carregada de crenças, ou por sua fé, apresentando assim uma verdade absoluta que não permite ser questionada, onde se sustenta pelos dogmas, resistindo a uma análise lógica. A linguagem é outro elemento que envolve a compreensão do homem, se caracterizando por símbolos e significados que trazem consigo um sistema simbólico e uma construção de razão permitindo, assim, ao homem um entendimento dos signos que compõem a língua e a si mesmo. O homem em seu processo racional cria “códigos” que permitem uma aceitação global e social, unificando o entendimento das coisas na classe “homem” e na classe “racional”, onde através do desvelamento desses signos quer representar algo da realidade corpórea ou até mesmo fora dessa realidade. No campo da linguagem temos uma aproximação estreita com a cultura e com o pensamento, permitindo uma compreensão muito vasta que engloba o ser humano tanto na área da ciência, da arte ou qualquer outra área do pensamento que por hora é mutável de acordo com a transformação do mundo que envolve a sua espécie. Essas três áreas que delineiam a espécie humana têm em si uma particularidade, mas em seu todo tenta explicar o homem como ser racional, ser transcendente, ser de significados. Assim o mito tem uma explicação baseada nos sentimentos, tornando-se uma verdade imperfeita, a religião por sua vez, se encontra na transição ente o mito e a filosofia, eleva o homem a um Ser que tem fé, que acredita. A linguagem é, portanto, a compreensão dessa significação que está sobre o mito e a religião, através de “técnicas” desenvolvidas pelo próprio homem, ao qual se apega a uma linguagem verbal, gestual ou artística. Todas essas características que envolvem o homem em seu plano existencial vêm contribuir para uma evolução da espécie humana na percepção da realidade, na compreensão de mundo e na esfera cultural, fazendo do homem um ser carregado de enigmas e surpresas, pois em cada momento se descobre e se revela de maneira diferente, descobrindo por trás de si mesmo uma racionalidade que está imbuída de caracterizar sua existência, seja através de mito, da religião ou da linguagem, carregando em si um sentido filosófico compreensível para cada época, demonstrando o homem social que transcende nossa experiência, que vai além das nossas possibilidades corpóreas, produzindo uma nova cultura, uma nova significação, uma nova estrutura de pensamento, conforme o momento ao qual ele se encontra.

O Poder ideológico da Escola

O Poder ideológico da Escola A educação brasileira [pública ou privada] está, há muito, em período de crise. Todos que recentemente passaram pelo ensino básico, podem rapidamente fazer um resumo das contribuições desse período para suas vidas. Uns dirão que nem lembram. Outros dirão que aprenderam a sentar em fila, cantar o hino nacional e permanecer calados. Talvez seja possível uma análise dessa crise, atentando-se ao caráter de “Aparelho de Estado” que a Escola tem. Primeiramente, é necessário esclarecer o significado desse termo. Aparelhos de Estado são instituições que servem aos interesses do Estado [entendendo Estado como a união de todas essas instituições] para a garantia de conservação da ordem social. Esse termo foi primeiramente pensado por Karl Marx, conhecido como o “criador do Socialismo Científico”. Porém, Aparelhos de Estado para ele resumia-se a algumas instituições [polícia, exército, administração, tribunais, o governo, as prisões, etc.] que, por meio da <>, controlavam a sociedade. Gramsci, teórico marxista, foi além, observando que outras instituições, também agiam como aparelho de estado, porém de modo <>: a igreja, a escola, os sindicatos, os jornais etc. Sobretudo, quem tratou mais a fundo o termo, fazendo a fragmentação de suas partes e reunindo-as em um conceito mais abrangente foi Louis Althusser em seu livro intitulado “Ideologia e Aparelhos Ideológicos do Estado”. Ideologia pode ser entendida, segundo Marilena Chauí, como “um ideário histórico, social e político que oculta a realidade, e que esse ocultamento é uma forma de assegurar e manter a exploração econômica, a desigualdade social e a dominação política”. Entendendo por ideário, modos de agir, de vestir, de pensar, valores, crenças, etc. Nesse sentido, que lugar melhor para se transmitir um ideário construído historicamente senão a Escola? Como dito em edição anterior do Jornal, a Escola é um dos aparelhos mais eficazes de controle da sociedade pelo Estado. É ali que se aprende a não questionar autoridades hierárquicas, mesmo quando estão erradas. É ali que se aprende a cumprir horários, tarefas e obrigações. É ali que o sinal soa. Quando se está na Escola, é fácil prever seus movimentos. Sabe-se onde está, com quem está, o que está fazendo, e o mais interessante, sabe-se o que está pensando. Como assim sabe-se o que se está pensando? O que é ensinado nas escolas é previamente selecionado, por aqueles que têm como função moldar pessoas. Os conteúdos vistos durante as aulas não se relacionam com a realidade dos alunos. Os alunos não veem sentido algum em estarem ali. São obrigados a aprender equações, nomenclaturas, abreviações, teorias etc., ocupando suas mentes com algo que consideram chato e estressante. Nada a respeito da realidade é discutido ali. Assuntos que são emergentes e cotidianos são ignorados. Muitas Escolas têm seus banheiros destruídos, seus quadros negros rachados, sua merenda escassa e suas janelas quebradas. Mas isso não deve ser questionado. Construiria mentes perigosas ao Estado. Mentes que, provavelmente, não ofereceriam tão fácil sua força de trabalho futuramente. Mentes que repudiariam o sistema educacional e a sociedade como estão. Não que as disciplinas curriculares sejam desnecessárias. O caso não é o que ensinar. O caso é o como ensinar. Quando se ensina qualquer disciplina, mesmo disciplinas de ciências humanas, pouco se discute sobre a realidade, não havendo nenhuma contextualização dos termos. Como se as ciências fossem desvinculadas da realidade social. Como se não fossem construções humanas, desenvolvidas histórico, cultural e socialmente. Quando aqui foi tratado sobre a influência de órgãos internacionais, como o Banco Mundial, no que é ensinado e como é ensinado nas Escolas latino americanas, objetivou-se abrir caminho para uma crítica mais aprofundada. Enquanto esses órgãos, que visam à profissionalização mercadológica, estiverem manipulando o sistema educacional, as ideias contidas nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN´s) para a Educação, nunca se concretizarão. Esses parâmetros idealizam uma Educação formadora de cidadãos críticos, que atuem de modo direto e ativo na sociedade, questionando as desigualdades e lutando por seus direitos. Porém esse ideal jamais será alcançado, enquanto a Educação estiver vendida aos interesses do mercado neoliberal. Enquanto essa ideia de falsa autonomia institucional permear por entre os meios educacionais, a ideologia de mercado continuará coordenando os passos que a Escola dá. E, consequentemente, coordenando os passos que a sociedade dá.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Somos mais que rótulos

Somos mais que rótulos Surgiu há mais de 3500 anos, desde aí inúmeras são suas funções e significados. Primitivamente eram feitas para marcarem as fases da vida biológica, depois, representavam fatos da vida social, como nas comunidades tribais espalhadas por várias partes do mundo, são consideradas ritos, marcas que evidenciam costumes, crenças e personalidade. Até mesmo na era Cristã, sob o risco de sofrer severas punições também era manisfetada entre os cristãos como forma de se reconhecerem. Na era moderna passou anos de marginalidade, como algo repulsivo e que trouxe forte e marcado o preconceito existente até hoje, mas em formas bem menos radicais. Hoje é vista por pessoas que admiram e são adeptos da arte. Essa é uma breve história da tatuagem, uma arte que também foi marcada pela presença feminina. Tempos atrás, o único lugar que se podia encontrar uma mulher tatuada era em circos e feiras exóticas, pois, como sempre o preconceito se fazia presente, rótulos como “tatuagemn era coisa para marinheiros e motociclistas rebeldes”, sempre permaneciam. Os circos no final do século XIX faturavam com esses espetáculos de mulheres tatuadas, pois, eram raras, foi nesse contexto que Jean Furella a famosa mulher barbada fez grande sucesso. Depois de se apresentar por tempos como a mulher barbada, ela tatuou todo seu corpo continuando sua carreira no circo. Em 1939, Betty Broadbent, ficou conhecida como a mais bela tatuada do mundo, com mais de 350 desenhos espalhados pelo corpo, feitos por importantes tatuadores da década de 30, um tempo depois ela se tornou tatuadora.
Cabelos coloridos, descoloridos, curtos ou longos, unhas de cores diferentes, aquelas que somente usam saias, aquelas que trabalham uniformizadas, as que dirigem as que são zelozas mães e donas de casa, as tímidas, as desinibidas e independentes, as que não usam brincos, as tatuadas... Enfim, são características que revelam nossa essência do que somos feitas, das ideias e ideais que carregamos conosco, a história de mulheres que contrariam tantos rótulos como essas citadas acima, devem servir como inspiração para todas independentes do que você concorda ou não. Devemos saber respeitar e até mesmo admirar a coragem de mulheres que com atitude mostram que podem sim ser taxistas, caminhoneiras, vaqueiras, tatuadas e tatuadoras. Somos sempre lembradas como o sexo da fragilidade, a parte que sempre deve ceder, as emotivas, sensíveis e até sensitivas, no dia que se comemora nossa condição de mulher ganhamos botões de rosas vermelhas, bombons e cartões, sempre nos lembrando de nossa importante existência, da força da mulher e da capacidade feminina. Realmente não discordo de tanto “encanto feminino”, de tanta doçura, não discordo das rosas, muito menos dos botões, mas eles ficam melhores em suas roseiras do que dentro de uma agenda velha e jamais discordaria dos bombons, esses que nos acompanham em nossas mensais regras de tortura. Diante de todo esse rótulo de sexo frágil, que comumente é reforçado, percebo que somos muito mais que um sexo, e bem mais que fragilidade, somos capazes de nos revelar mais que sentimentos, mais que vaidade, mais que “Amélias”, somos capazes de nos manter mulheres até mesmo diante de preconceitos provenientes da falta de conhecimento, o fato de ter abordado a tatuagem, foi somente uma forma de mostrar que tudo tem seu fundamento, desde uma simples vaidade feminina até mesmo a expressão de personalidade e só percebe isso quem é capaz de admirar com sabedoria uma mulher de verdade.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

O sistema penal brasileiro

O sistema penal brasileiro Michel Foucault, em um de seus trabalhos, com o título Vigiar e Punir, publicado em 1975, indaga as práticas do Direito, perfazendo-se uma visão nem um pouco convencional, trazendo à tona uma discussão sobre o suplício como forma de punição e a sua substituição pela privação da liberdade. Analisando as mudanças nos sistemas penais da sociedade ocidental. Iniciando sua análise pela forma de punir do final do século XIII até o início do século XIX. Discutindo sobre o que chama de “espetáculo” até o sistema prisional. Nos levando a uma reflexão sobre a necessidade de uma revisão do sistema prisional atual. Nietzsche, traz a idéia de que a punição, a pena, seria um ato público de vingança, onde o infrator passa a ser visto como inimigo sendo detestável e passivo à ira de uma sociedade. Já para o general francês, Maud’huy, sob a perspectiva da Primeira Guerra Mundial, o infrator passa a ser detestado como um inimigo, passivo aos horrores da guerra devendo ser punido severamente. Ambos trazem a punição, imposta por, seja pela sociedade, seja pelo exército extremista presente na guerra, como forma de retribuição àquele que pratica um delito. No livro Vigiar e Punir, Foucault traz como uma alternativa para a pena que implica em suplício o panoptismo, que seria uma forma de disciplinarização e controle do indivíduo, o que segundo Foucault, uma vez que disciplinaríamos o indivíduo, quando este cometesse um delito seria submetido a tal processo e poderia ser adestrado. Porém, é tido por especialistas como utópico e não aplicável, pois visa adestrar as pessoas para que fossem bons cidadãos e não mais cometessem delitos e não infringissem as normas ditadas pelo poder. Consistindo num sistema de vigiar e punir, onde seria como um sistema carcerário, parecido com o sistema militar, onde a disciplina seria rigorosa e o indivíduo seria adestrado. Porém a aplicabilidade desse sistema e a funcionalidade são discutíveis, pois existem indivíduos que mesmo sob tortura, ou modelo de adestramento, quando a estes submetidos não mudam a sua conduta, quando encontram um momento oportuno. Temos que aprendermos a visualizar então, que o poder do Estado não se resume em legitimar sua força sob o indivíduo, mas de resguardar uma sociedade que deve também observar o indivíduo como sua composição. A grande e pretensa relevância dessa indagação, sobre a punição, se pauta na identificação dos fatores que refletem uma perspectiva de “congelamento” ou “estranhamento” nas relações dos indivíduos para com a sociedade e da sociedade para com o indivíduo, que enfrenta uma dicotômica relação entre a proposta de homogeneização social diante de um sistema de controle e disciplinarização dos sujeitos sociais e a real e concreta heterogeneidade da sociedade que se efetiva de forma desigual e que se legitima pelo “lugar” de onde se fala, articulando-se em seu discurso de poder. Quando se refere sobre um sistema a ser aplicado de forma geral e unânime, nos referimos a algo que submeta todos os indivíduos que num ponto comum, ou seja, que estejam relacionados por um pertencimento a uma determinada sociedade. Assim, se torna algo extremamente complexo, por se tratar de uma redefinição desse agrupamento social, a sociedade como um todo, que se subdividindo, gera um tonificação diferenciada em uma articulação de poder. Então, é imprescindível analisar “quem” são essas pessoas que formam esse grupo que defere o que diz respeito ao que seja a “justiça”, e como alguns poucos indivíduos são capazes de definir “pesos e medidas” que enquadrem os demais indivíduos, em face de um mesmo conjunto de normas e regras que gerem essa organização social. Observando a historicidade do “punir” e sua problematização sobre o suplício e a privação da liberdade nos remete a uma indagação sobre a “evolução” desse quadro de julgamentos e penas. Como e o quê se alterou durante esse decorrer do tempo, na constituição de um sistema de disciplinarização e normatização na sociedade que temos hoje. Percebe-se que houveram mudanças das penas e mudanças nas aplicações das penas, porém se faz necessário essa reflexão, para o entendimento do que está sendo feito de errado, se existe algo errado no sistema penal atual, refletimos também a eficiência dos métodos atuais de punição e a aplicabilidade desses métodos. O suplício humano ainda se faz presente nos dias atuais, sob essa perspectiva analisamos como melhorar o nosso sistema penal, revê-lo, não só do ponto de vista das leis, mas da aplicabilidade destas. Houve uma evolução no sistema penal sob o aspecto do punir, desde o início dos tempos? Ainda existe o suplício humano no sistema penal atual? Numa breve análise podemos observar que houve evolução do sistema penal, do ponto de vista físico e tecnológico, se compararmos ao período citado por Foucault, pois a atrocidade da época com o corpo supliciado era estagnante, mas é preciso melhorar ainda mais. As cadeias estão superlotadas, prédios com infiltrações causados por chuva, más condições de trabalho aos carcereiros; e principalmente, o que diz respeito aos reclusos, até que ponto este corpo não está mais sujeito ao suplício. Problemas estes que não sanam, tampouco remediam a crescente criminalidade. E o que fazermos com aquele que comete o delito, que tipo de punição seria mais eficaz? Nos países onde as penas são mais severas, tais como pena de morte ou prisão perpétua, o índice de crimes não decresceram. Em países como o Brasil, é comum encontrarmos relatos de tortura e de agressões severas e cruéis que nos remetem a tempos em que o suplício era um meio legal e público de punição. Sendo de suma importância não só uma reconsideração do sistema penal, no que diz respeito a parte física, que são os presídios, mas também numa revisão da legislação que por muitas vezes vitimiza o homem gentio e de poucas posses. Por Dulcianny Medeiros Pinto Santana Estudante de Direito Faculdade Padrão

O que o anarquismo fala sobre a educação?

O que o anarquismo fala sobre a educação? João Gabriel da Fonseca Mateus
Muito se fala de educação. Porém, na maioria dos casos a educação tem uma funcionalidade prática e formal, que conduz apenas à elevação do indivíduo a uma formação limitada, por exemplo, formá-lo ao mercado de trabalho para produzir trabalho alienado. Porém, na história do anarquismo vemos outra significação de educação (uma crítica e uma proposta). Neste breve texto, iremos apresentar o que significa educação para os anarquistas, primeiramente, a educação em seu estado atual e após isso, uma proposta de educação libertária. O sentido da educação que os anarquistas propõem é amplamente diferente do sentido capitalista, ou seja, a educação proposta dos anarquistas visa despertar a sensibilidade dos trabalhadores para o caráter integral dos seres humanos, superando as diferenças entre trabalho intelectual e manual. A educação na sociedade atual (capitalista ou qualquer outra sociedade de classes) é evidentemente mecanismo de reprodução de classes. E como se dá essa reprodução? Muito bem fez Mikhail Bakunin ao dizer no seu texto “A Instrução Integral” de 1868 que: “a diferença de classes gera o domínio de classes”. Nesse sentido, a riqueza produzida em sociedade é exclusiva a uma classe que detém conhecimentos e seus progressos. Mas quem é essa classe que é exclusiva do poder e dos conhecimentos? É a classe hegemônica, a burguesa. A classe burguesa opera como legitimadora de seus interesses em suas instituições, ou seja, para isso ela precisa da burocracia, uma classe auxliar que reproduz os interesses burgueses. No seio da burocracia existem determinadas estratificações e a figura da “autoridade”. A “autoridade” é aquele que dirige, manipula, administra, manda e exerce o poder sobre determinadas pessoas. No âmbito da educação, sobretudo no capitalismo, a autoridade exerce posição central, pois é mais uma maneira da manter a ordem vigente através da reprodução da divisão social do trabalho, cuja raiz é o poder econômico, político, simbólico sendo seu fim a hierarquia. Mas como pensar essa destruição? A resposta dos anarquistas está abaixo. Sem mais delongas, adentraremos ao tema da liberdade e a educação. Diante do capitalismo essa educação está necessariamente ligada a uma revolução social. A ideia de ruptura é tida central em nossa percepção. A educação libertária como mecanismo de legitimação da liberdade só passa pela destruição do capitalismo e tudo que o geram. Dessa maneira, qualquer iniciativa a favor da autogestão social é um passo para sua afirmação aumentando a tendência para destruir essa sociedade opressora e instaurar uma sociedade justa e igualitária. A liberdade só se concretizará com a destruição das estruturas de exploração burguesas e de dominação da sociedade capitalista, que impõe o desenvolvimento intelectual, econômico e político para os que detém poder e a exploração para a maioria. Portanto, as organizações burocráticas (escolas, partidos, igrejas, etc.) não conduzem a liberdade. Porém podem possibilitar desde que o indivíduo rompa com seus paradigmas de pensamento que o limitam, ou seja, a própria sociabilidade burguesa. Mas por que? Por que todas essas organizações são organizadas burocraticamente (dividem os indivíduos em cargos e poderes,) e isto só pode reproduzir burocracia. Tanto o Estado, como outras instituições burocráticas visam formar mentalidades adaptadas aos seus interesses de classe. No século XX vemos um aumento significativo das escolas. Esse aumento, patrocinado pelo Estado tem o objetivo único de realizar seus próprios interesses, ou seja, impor aos indivíduos um pensamento reacionário, religiosos, nacionalista, sectário, etc. que reproduz assim a superficialidade, moralismo, atrofiamento da razão e o desenvolvimento da repressão. A formação que tenha por objetivo ou que conduza à liberdade precisa levar em conta que ela só pode existir com condições reais. Isso nos autoriza a afirmar que a liberdade só pode ser concretizada com indivíduos livres. Então, o que seria liberdade? Esse conceito é utilizado por todas classes sociais com diferentes sentidos e significados. Aqui utilizaremos esse conceito a partir da corrente do anarquismo denominada coletivismo. Tendo como maior expoente o russo Mikhail Bakunin, o coletivismo é uma das várias correntes do anarquismo que se desenvolveu no século XIX. Bakunin afirmou que “a instrução deve ser igual em todos os graus para todos; por conseguinte, deve ser integral, quer dizer, deve preparar as crianças de ambos os sexos tanto para a vida intelectual como a vida do trabalho, visando a que todos possam chegar a ser pessoas completas.” O que ele vem afirmar é a necessidade de um ensino que deve ser teórico e prático e posteriormente, após a escolha pessoal do indivíduo, o ensino deverá ser dividido em questões de conhecimentos gerais e específicos. Este é o projeto de educação libertária de Mikhail Bakunin. Outros anarquistas também propuseram outros tipos de educação libertária (Francisco Ferrer y Guardia, Élisée Reclus), porém, todos confluíram em um ponto: a destruição do capitalismo. Resume-se aqui a educação libertária, proposta do anarquista russo. O que fica claro é a centralidade da ruptura com sistema capitalista. A liberdade só se concretizará com o fim do capitalismo e com a instauração de uma sociedade autogestionária. . João Gabriel da Fonseca Mateus: Graduando em Licenciatura em História pelo Instituto Federal de educação, Ciência e Tecnologia de Goiás; Bolsista da CAPES/PIBID; Autor do livro Educação e Anarquismo: uma perspectiva libertária (Rizoma Editorial, 2012); Membro do corpo editorial da Revista Eletrônica Espaço Livre.

segunda-feira, 26 de março de 2012

segunda parte da crônica

O flautista sabe quem é... Dizem que o amor é cego, e que a loucura sempre o acompanha, uma perspectiva interessante, venha vamos destrinchá-la. Entendamos o amor como uma força incomensurável a qual está inata em todos nós, mas atenção, não falo sobre o amor segundo Petrarca, ou que Shaekspeare consagrou em Romeu e Julieta, infelizmente não há espaço para este tipo de amor hoje em dia, ele é corruptível, e se desgasta com o tempo, assim prefiro o que diz kundera em a insustentável leveza do ser, sobre o amor entre duas pessoas, “os amores são como os impérios, desaparecendo a idéia sobre a qual foram construídos morrem junto com ela”. Em resumo este tipo de amor sim pode ser acompanhado da loucura. Estou falando de um amor mais completo, e, por conseguinte mais complexo, é aquele amor que faz com que nos sintamos bem ao ver as realizações do próximo, talvez seja, eu disse talvez, este o amor que o grande pai celestial dotou a todos nós, a diferença é que alguns (muito poucos) se deixam contagiar por ele, enquanto que noutros ele nunca participará da periferia de seus sentimentos. Assim sendo o oposto do amor segundo a frase devia ser o ódio e não a loucura, portanto, “o amor é cego e o ódio sempre o acompanha”, sentimentos diametralmente opostos, mas que não podem viver um sem o outro, já dizia o poeta; “não existiria som, se não houvesse o silêncio, não haveria luz se não fosse à escuridão”, em resumo amor e ódio são como o bom e o mal, o yn-yang, é a dualidade que se unifica. Corrigida a frase, voltemos ao drama, cabe a loucura um papel especial nestas linhas iniciadas na edição passada, aí esta ela sempre a nosso lado, pronta a atacar, como uma hiena que se manifesta quando se sente maior que nós, sim, a loucura se sentiu feliz com a partida de alguém, pois, com sua ida coube a si o papel de protagonista, e íi está ela com seu novo visual de galante e seu sorriso enigmático. Coitadinha, mal sabia ela que não conseguiria cumprir com suas expectativas. Sua alegria triunfante inicial foi sendo substituída por um desespero constante, no mesmo ritmo que aumentava a sua obrigação empregatícia, ao final do primeiro dia viu que não suportaria tanto trabalho, e apesar de ser conhecida por sua fama de nunca dormir, sentiu-se pronta a entregar-se-á pelo menos uma soneca benfazeja. Já quase exaurida de forças resumiu seu dia com uma frase lacônica - mas que merda que vou fazer com esse bando de loucos? De fato era gente demais endoidecendo, a loucura não aguentava mais, antes quando a fujona estava aqui não era assim, as coisas tinham um equilíbrio e este era ultrapassado as vezes em favor da loucura, que comemorava em tiques de alegria, mas, agora era tudo diferente, o bando de loucos era a humanidade toda, um bando grande demais, a loucura logo percebeu que não iria dar conta de tanto serviço, se sentia estressada, (e quer uma coisa mais estressante que um bando de gente? Ainda mais se todos forem loucos ou vendedores de rede), trabalhava demais e neste ritmo acabaria por ficar louca, pensou neste assunto com extremada ironia, imagine só, eu que sempre levei meus talentos a todos me deixar contaminar por ele? Inaceitável, a loucura com toda sua ânsia por novos beneficiários de sua ideologia, sempre fora uma pessoa normal, e não poderia mais trabalhar caso não pudesse espalhar seu dom por estar acometida por problemas mentais, não podemos deixar isto acontecer. Então nossos digníssimos governantes resolveram enviá-la na comitiva de diplomatas que partiriam no encalço da famigerada fugitiva, agora procurada por todo o universo, viva ou... Bem, viva ou viva, não teria utilidade nenhuma morta. Assim nossa heroína partirá de mala e cuia, na novíssima nave da diplomacia (a esperança emprestou seu nome para a empreitada), os diplomatas pensando na honra individual de cada um, e a loucura em busca de sua parcela unificadora, não queria honras de estado , condecorações, tampouco a alcunha de heroína que teimamos em chama - lá, não estava interessada nessas trivialidades mundanas tão comuns entre os pobres filhos de adão, só queria que as coisas voltassem ao normal, além do mais ser utilizada assim tão exageradamente, queria muito um pouco de descanso - Tão achando o que hein ? Mexer com gente, antes mexer com vacas, são muito mais fáceis de lidar! ... Continua. tuliofmendanha@hotmail.com